Para quem deseja criar arte do bordado livre ou mesmo montar um arranjo de cores que faça sentido e desperte atenção do observador, é essencial buscar a experiência da cor – olhar com sensibilidade – aproximar-se das cores que a natureza nos presenteia. Uma cor só tem significado quando é experimentada – vista e sentida. Acredito que, para ser um artista, o mais importante não é dominar teorias, enquanto sistemas e conceitos previamente concebidos. Como sujeito ativo, produtor de obra e pensamento, ao artista importa, sobretudo, o olhar (que está na raiz da palavra teoria), a observação, a experimentação e a intuição. O vivido é o fio da meada que nos liga às emoções, às cores. É a experiência única do que se vive que nos possibilita criar, fazer com as mãos e com a alma a nossa arte. Como disse Fayga Ostrower em seu livro Criatividade e processos de criação: “O criar só pode ser visto num sentido global, como um agir integrado em um viver humano. De fato, criar e viver se interligam”.
Um conjunto de cores é dito harmonioso quando o olhar percorre e traz a experiência de algo bom e belo de se ver. As cores estão em harmonia quando conversam entre si, provocando movimento de emoções. Quando nos comovem. Na minha visão, a harmonia das cores é um sentimento e, como sentimento, é algo pessoal, subjetivo e próprio de cada indivíduo. Portanto, o que harmoniza para um pode não necessariamente harmonizar para outro. Harmonizar cores no bordado é como harmonizar cores em qualquer linguagem artística, mas tem também suas particularidades. Diferente da pintura, por exemplo, em que o artista tem liberdade parar brincar misturando as cores para criar derivações, no caso do bordado o insumo do artista são as linhas que têm sua cor pré-definida, imutável. Cabe à bordadeira fazer suas descobertas e construir a partir delas as suas harmonias. Por outro lado, a arte do bordado nos permite brincar de outras formas, agregando texturas, volume e movimento à obra, e ainda assim ter um bom espectro de cores à sua disposição para proporcionar mais diversidade em seu bordado em harmonia. Certamente que o conhecimento da teoria das cores poderá contribuir no planejamento das cores de uma obra. Portanto, considere aprofundar-se no assunto e conhecer aspectos formais da “harmonia das cores”. O importante é ter em mente que teorias são ferramentas que podem nos auxiliar, mas nunca devem ser motivo de aprisionamento da criatividade. O círculo cromático é a celebração das cores e uma referência para a sua combinação. Acredito que algumas combinações importantes provenientes da teoria das cores têm a capacidade de nos mover. São as chamadas Combinações Harmônicas e estão intimamente ligadas ao círculo cromático como veremos a seguir.
Círculo Cromático – a roda encantada das cores na prática do bordado livre
Estudiosos, pintores e coloristas deixaram as suas referências de cores registradas em imagens maravilhosas e inspiradoras, como o círculo de Goethe e o círculo de Portinari. Círculo cromático nada mais é do que um círculo composto por 12 cores, sendo estas agrupadas entre cores primárias, secundárias e terciárias. Dentro desse círculo, há alguns grupos de cores que funcionam muito bem quando aplicadas em conjunto, formando uma espécie de esquema de cores atraente e convidativa aos olhos do observador. Nos meus bordados, dentro de uma mesma obra, posso ousar e me divertir criando pequenos pedaços do bordado com mais de uma combinação harmônica, ainda que com suas diferentes combinações são parte de um todo. Faço isso intuitivamente. Nesta roda de cores harmônicas, existem alguns grupos importantes e variam entre os estudiosos. Vou ressaltar algumas aqui:
Harmonia monocromática
Esse grupo é formado pela harmonia de uma mesma cor dentro da roda das cores. Nesse caso, há variações de tonalidade da cor, mas todas as variantes se mantém no mesmo matiz da roda das cores. Na harmonia monocromática, uma cor principal, como o azul ou o verde por exemplo, pode combinar com cores mais neutras, como o branco ou então o preto, embora seja um pouco difícil usar esse tipo de combinação quando se tem o objetivo de ressaltar pontos importantes de uma obra.
A vantagem de usar esse tipo de harmonização, é que sua aplicação tende a ser simples e o resultado geralmente cria um aspecto apelativo bem interessante. Gosto muito de usar a monocromia, no entanto é importante cuidar de alguns detalhes, como a necessidade de contrastes, pois trabalhos envolvendo o uso de cores monocromáticas não são tão vibrantes como em outros grupos de harmonia das cores.
Harmonia analógica
Na harmonia das cores analógicas, as cores primarias se combinam com duas ou mais cores vizinhas na roda das cores. Essencialmente, nesse grupo existe o uso de uma cor dominante que é enriquecida pelas cores adjacentes. Vizinhas no círculo cromático, as cores análogas podem ficar muito lindas para usos no bordado, assim como em outras artes. Encanta-me que a proximidade entre elas favoreça uma composição harmoniosa e agradável. Ao planejar o seu bordado com a imaginação livre, você pode obter muitas combinações e se surpreender. Gosto da forma lúdica de bordar com cores análogas, como neste bordado onde usei tons derivados vermelho e terra com o lilás. Uma boa dica nesse caso consiste em evitar o uso de várias tonalidades pois dessa forma você corre o risco de perder a harmonia entre as cores. Também cuide ao combinar cores quentes e frias dentro desse mesmo grupo.
Harmonia complementar
Para que entenda o que representa uma harmonia complementar, basta ter em mente que ela se resume basicamente em uma harmonia de contrastes. Neste grupo, você escolhe uma cor dominante e outras complementares para dar o destaque da sua obra. Em posições opostas no círculo cromático, as cores complementares podem harmonizar lindamente. Neste tipo de harmonização, escolhe-se uma cor dominante e outras, que se encontram em outro ponto equidistante da “arrumação” do círculo cromático. Os contrastes que surgem das cores complementares criam belos arremates e destaques à obra. A obra “Vereda da Água Branca” é um exemplo. Ao criar esta peça, não foi intencional fazer uma harmonia complementar, mas fizemos de forma intuitiva, fluindo nos inesperados. O imaginário nos guiou. Percebam o contraste entre a parte superior e inferior da obra. Do céu de Brasília, tomou-se o azul como cor dominante, em contraste com os tons terrosos avermelhados do Planalto Central, de onde brota água branquinha. É também interessante notar a harmonia analógica do azul do céu, em equilíbrio com o turquesa, com verdes azulados, verdes ora intensos, ora amarelados. Nessa obra, especificamente, há uma harmonia principal do azul com o marrom (complementar) e harmonizações secundárias de azuis, verdes e amarelos (analógicas). A obra “Vereda da Água Branca” expressa a síntese do cerrado e dos caminhos que se entremeiam numa vereda. O chão da terra avermelhada de Brasília serve de pano de fundo para os movimentos, insinuando linhas e curvas da concepção arrojada da capital brasileira.
Harmonia tríade
Neste grupo são usadas três cores diferentes no círculo cromático. Por exemplo, você pode pegar o vermelho, azul e verde para criar uma obra com um efeito harmônico e super atraente aos olhos. Esse tipo de harmonia, é bastante usado entre artistas populares devido o contraste visual que ela proporciona, sem contar a sua riqueza de cores, que agrega muito mais valor a qualquer obra.
E muitos ainda perguntam: Monocromia ou Policromia? Tanto a monocromia quanto a policromia podem ser muito atraentes no seu bordado livre e espontâneo. Escolher a monocromia pode ser uma bela opção para seu bordado. Esta escolha envolve maior ou menor luminosidade de uma mesma cor no trabalho, resultando em tonalidades variadas. A monocromia pode ser obtida com adição gradativa de branco ou preto a uma cor. Gosto muito de usar este efeito cromático, por ser desafiador criar uma mensagem, uma sensação a partir da monocromia.
A policromia é o oposto das telas monocromáticas, nas quais usamos uma única cor. A policromia é uma festa de cores! É a experiência de dar várias cores a um único objeto. E como eu gosto da festa do olhar, uso muito a policromia nas minhas criações e como integrante do Grupo Matizes Dumont.
A policromia é o oposto das telas monocromáticas, nas quais usamos uma única cor. A policromia é uma festa de cores! É a experiência de dar várias cores a um único objeto. E como eu gosto da festa do olhar, uso muito a policromia nas minhas criações e como integrante do Grupo Matizes Dumont.
Maravilhoso ❤️❤️❤️
IMPRESIONANTE EL MANEJO DEL COLOR !
Quadros lindos! Como encontrar tanta inspiração !