“Hildebranda tinha uma concepção universal do amor, e achava que qualquer coisa que acontecesse com uma pessoa afetava todos os amores do mundo inteiro. ” (Gabriel García Márquez, em O amor nos tempos do cólera, p. 161)
Essa tela se chama O abraço. Bordado sobre tecelagem desenvolvida especialmente por Demóstenes, que brincou com a sobriedade das cores e deu, ele mesmo, luz nos tons claros das vestes das mulheres. Quem são elas? Mãe e filha? Meninas-moças? São mulheres, que de tamanho afeto, nos intrigam e instigam a curiosidade. Pois elas saíram de um estudo de Candido Portinari na preparação para os grandes painéis Guerra e Paz.
A cena é clara como a lua cheia lá fora, única testemunha do que se passa em dois corações que se enternecem, capturados pelos pontos do nosso bordado. Pontos do bordado tão assertivos de Demóstenes, firmes e vigorosos ao cobrir de azulados a trama da tecelagem.
“A escuta telúrica, as raízes populares e expressões vitais da pintura de Portinari estão presentes nessa recriação contemporânea da obra do mestre modernista pelo grupo Matizes Dumont. Os pincéis de Portinari e as agulhas de Dumont unem os riscos que se entrelaçam para homenagear a Paz, no centro de uma visão estética que toma o povo em seu regaço”. Nilma Lacerda.
Escolhi hoje essa tela da coleção Coração em Paz, lançada em 2010, porque ela traduz um pouco da tensão em que estamos vivendo. É proibido abraçar. Logo para nós, brasileiros, tão dependentes de afetos manifestos, que gostamos de tocar, sentir na pele o calor do outro. Gesto natural, nem pensávamos na liberdade de abraçar e agora ficamos a lembrar de abraços perdidos…a entender o abraço como um rico alimento para a saúde e a paz no coração!
A ausência de abraços nos afetou globalmente. Desde os mais contidos e reservados nórdicos aos mais efusivos latinos. Parece absurdo, insensato, contraditório pensar que foi um minúsculo “algo” que escancarou a enorme verdade de sermos todos iguais.
Que tudo isso passe, mas que nada volte a ser como antes. De agora em diante não deixaremos passar a chance de um abraço. Enquanto isso, aprendamos a abraçar com os olhos…um olhar mais longo e demorado. Já foi dito e cantado que os olhos são janelas da alma…então, vamos abrir nossas janelas e até mesmo as portas da alma para O ABRAÇO com os olhos.
Parabéns lindo e verdadeiro texto. Gratidão por cada palavra.
parabéns lindo texto.
Obrigado pelo carinho ❤. Consegui sentir o abraço das Madrinhas Dumont. Sim com esses tempos de não poder abraçar as pessoas uma figura tão singela pode transmitir tanto. Grupo Dumont quero retribuir esse abraço. GRATIDÃO SEMPRE. Alegria Alegria