Tempo de bordar e tecer narrativas poéticas, afetivas, têxteis

Hoje começamos um conjunto de “Pontos de Prosa” até (a)gosto do Matizes, Tempo de bordar e tecer narrativas poéticas, afetivas, têxteis. Esses pontos de prosa serão em comemoração ao aniversário do Coletivo Matizes Dumont. Serão oportunidades para conversarmos sobre a importância que é esse tempo de bordar e tecer narrativas poéticas. Tempo de bordar afeto, de bordar PAZ.

Bordado em desenvolvimento

Bordado em desenvolvimento. Foto de Banco de Imagem do Grupo Matizes Dumont.

O bordado livre como forma de expressão poético-afetiva transcende a mera representação visual

A importância do bordado como forma de expressão poética está na capacidade única dessa arte em transmitir histórias, emoções e memórias através de fios e tecidos. O bordado vai além de uma simples técnica, dentre outros aspectos, é um meio de comunicação visual, afetiva, que permite a criação de narrativas poéticas têxtis.

Cada ponto e detalhe do bordado carrega consigo um significado simbólico, e é aí que mora a essência poética dessa forma de expressão. Cada escolha cuidadosa dos elementos visuais – os tipos de pontos utilizados, texturas e formas presentes no desenho – contribui para a construção de uma história única e com muitos pontos e pespontos de significados.

Pés de Dona Zulma sobre bordado. Foto do Acervo da Matizes Dumont.

Pés de Dona Zulma sobre bordado. Foto do Acervo do Matizes Dumont.

O bordado poético, afetivo, transcende a mera representação visual, pois é capaz de evocar sensações, despertar emoções e estimular a imaginação do observador. Fios e tecidos transformam palavras silenciosas em novas escritas – narrativas que transbordam vida em movimento, capazes de mensagens tão profundas quanto sutis.

Ao bordar, o artista tem a oportunidade de dar vida às suas ideias, sentimentos e vivências, expressando-se de forma tangível e visualmente impactante. A escolha dos elementos visuais a partir do experienciar de cada um é fundamental para a transmissão da narrativa poética, pois é por meio deles que as histórias ganham forma e significado.

Obra "Vida que te quero viva".

Obra “Vida que te quero viva”.

O Bordado Transgeracional

O bordado livre como forma de expressão sensível e amorosa também permite uma conexão íntima com as tradições culturais e memórias coletivas do vivido. Ao resgatar técnicas tradicionais e explorar temas que são relevantes para determinada comunidade ou contexto histórico, o bordado torna – se poderosa ferramenta para preservar e transmitir conhecimentos, valores e histórias entre gerações. Avós mães, filhas, netas, sobrinhas fazem costuras e recontos de suas histórias.

Além disso, o bordado poético e afetivo também encontra espaço na contemporaneidade, sendo utilizado por artistas contemporâneos como meio de expressão e questionamentos. Por meio de técnicas inovadoras, abordagens temáticas relevantes e estilos pessoais, os artistas bordadeiros exploram novas possibilidades e dão voz a narrativas contemporâneas, trazendo uma perspectiva atualizada para a expressão poética por meio do bordado com direito ao avesso.

Exposição do Grupo Matizes Dumont em Pirapora. Foto do acervo Matizes Dumont.

Exposição do Grupo Matizes Dumont em Pirapora. Foto do acervo Matizes Dumont.

A importância do bordado livre como linguagem poética-estética-visual e afetiva reside na sua capacidade de transmitir histórias, evocar emoções e transmitir significados simbólicos por meio de fios e tecidos e agulha percorrendo tecidos. Bordar é um meio de comunicação visual único, que permite ao artista criar narrativas que impactam e ressoam no espectador. O bordado como possibilidade de outras escritas e leituras preserva tradições, conecta pessoas e estimula a imaginação, a afetividade revelando-se como uma arte que transcende o tempo e o espaço.

E é sempre tempo de bordar afeto, de bordar PAZ.

Brasília,

12 de Julho de 2023,

assinatura Marilu Dumont

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