“Uma pintura que não fala ao coração não é arte, porque só ele a entende. Só o coração nos poderá tornar melhores e é essa a grande função da arte.” Candido Portinari
O artista de Brodowski falou sobre a arte e o coração E é bem assim! Quando as pessoas se reconhecem na arte, se sentem parte da criação, sujeito criativo e capaz, é, sem dúvida, um momento espetacular!
Nós do Matizes Dumont confiamos que a grande função da arte, em todas as suas vertentes é transformadora e é por isso que utilizamos a arte do bordado como instrumento sensibilizador para ações com possibilidades de mudanças.
Hoje somos três gerações de bordadeiras de uma mesma família mineira de Pirapora, MG, que há 35 anos borda o Brasil, sua gente, suas cores. Faz do bordado espontâneo uma linguagem. Desde 1999 desenvolve processos de educação socioambiental.
Participação, inclusão social, biodiversidade e bordados.
Empregamos o bordado como estímulo e forma de expressão nas artes visuais e em ilustrações de livros, na promoção da saúde e ambientes saudáveis, na mobilização social para o olhar para as questões ambientais, na geração de emprego e renda, na busca da paz e no desenvolvimento humano.
Realizamos projetos sócio ambientais com uma prática psicopedagógica chamada “(A)Bordar o Ser”, utilizada em processos de desenvolvimento pessoal e de grupo. Com trinta e cinco anos de experiência o Matizes Dumont rompeu com o aspecto apenas instrumental do ato de bordar para desenvolver o potencial criativo e expandir a consciência do participante de cada oficina, de cada projeto efetivado.
Em todo o Brasil e também no exterior, desenvolvemos oficinas vivenciais do bordado com vários enfoques. Nessas oficinas, diante do olhar de cada participante, nasceram inúmeros projetos transformadores de inclusão e responsabilidade social.
Defendemos a sensibilização para as transformações por meio da arte. De acordo com muitos relatos de mulheres, após estes projetos surgiram grupos de bordadeiras em diferentes cidades. Coletivos que mostram a força da resistência, da resiliência, da necessidade do registro da luta pela igualdade de gênero, da denúncia pela força política. São grupos independentes comprometidos com a arte e com a beleza.
“O resultado dos projetos é mais que um registro poético-visual que simboliza a busca pelos valores humanos, sociais e ambientais. Eles cumprem a função da arte de educar e mobilizar pessoas para mergulhar nas águas da sensibilidade e da convivência harmoniosa com a natureza”. Marilu Dumont
Muitos projetos foram desenvolvidos com a atuação dos integrantes do grupo Matizes Dumont tais como Caminho das Águas, Bordando o Brasil, O Rio Que Mora Em Mim. Hoje vamos destacar dois deles: Quintais e Entre Rios, projetos relacionados ao Licenciamento Ambiental da LT Porto Velho Araraquara da IE-Madeira.
Ainda em andamento, os dois projetos são de Educação Ambiental e Comunicação de riscos com abordagem apreciativa, positiva. Neles a arte e a sensibilidade são estratégias de sensibilização, usam a linguagem do bordado como expressão, mobilização e participação. Buscam não só a internalização de valores e atitudes relacionadas à responsabilidade social e uso racional dos recursos naturais, mas também a inclusão de pessoas no mundo do trabalho digno e criativo, a valorização do patrimônio cultural imaterial brasileiro.
Em ambos é empregada a “Vivência Psicopedagógica (A)Bordar o Ser”, considerada prática socioeducativa, e outros métodos e técnicas da promoção da saúde, da Educação e da Cultura Popular, e dentre seus princípios estão a Ética do Cuidado e o Bem Viver.
O Projeto Quintais, iniciado em 2016 nos municípios de Candeias do Jamari- RO e Gavião Peixoto-SP tem o foco na Educação Ambiental, Agroecologia, Bordados, Sensibilidade e Inclusão Socioprodutiva, e as ações são pautadas na Comunicação de riscos por meio de práticas com abordagem apreciativa,
Neste projeto a abordagem da comunidade foi realizada por meio do quintal, que é a menor unidade territorial e a mais próxima das pessoas. A partir dos Quintais Urbanos, do Cuidado e da Arte do Bordado é possível restabelecer espaços afetivos e da memória da cultura brasileira. O resgate simbólico e a reorganização dos Quintais do ponto de vista ambiental e sanitário ganha importância para a promoção da qualidade de vida
Projeto Entre Rios
Iniciado em 2017 foram desenvolvidas ações em Acorizal, Chapada dos Guimarães, Jaciara – MT, em Caçu e Santa Rita do Araguaia – GO, Iturama-MG e em Ibirá, Fernandópolis e Potirendaba-SP.
Leva em conta o contexto mundial, nacional e local das águas, que nos mostra a necessidade de sensibilizar para o cuidado, para a preservação de nascentes e cursos d’água, e neste fluir com as águas a construção da cultura da paz.
Por que o bordado, quintais e águas, seres em projetos de Educação Ambiental
Porque todos eles são carregados de significados e trazem ricas oportunidades de mediação, muitas possibilidades no caminho do desenvolvimento pessoal e coletivo. No caso da LT Porto Velho-Araraquara, que percorre grande extensão do país e onde existe grande diversidade cultural, social, diferentes Biomas, Regiões Hidrográficas, o Aquífero Guarani, fez-se necessário escolher caminhos que considerassem esta complexidade e riqueza. Estratégias que nos levaram a buscar respostas: de que forma conciliar a conservação da diversidade biológica com o uso sustentável dos ativos ambientais e com o desenvolvimento econômico e social e cultural? Quais caminhos podem nos levar a transformações e ao Desenvolvimento Humano de forma criativa e participativa?
E assim escolhemos desenvolver ações socioeducativas por meio da arte e da cultura popular de forma a motivar os participantes para a estruturação de vida produtiva e saudável.
A escolha da água para um projeto e dos quintais para o outro, foi movida pela necessidade de partir da realidade mais próxima dos participantes, da vida, do que acontece no cotidiano. Se por um lado os quintais, pequenos territórios aonde a educação ambiental encontra seu espaço e lugar para ações com efetiva participação, os fios d’água são o que nos une sem distinção de território e classe social. Consideramos que a manualidade do bordado além de permitir a capacitação das participantes para a inclusão socioprodutiva, promove o encontro da pessoa com ela mesma em seu momento de criação, desperta a memória e afetos, possibilita reflexões e mudanças internas, pessoais e coletivas, fundamentais para uma aliança com a realidade e em processos de Educação Ambiental.
Unir a linguagem do bordado à memória dos quintais ou à capacidade de mediação do elemento água foi uma escolha para aproximar, sensibilizar, mobilizar, encantar. Os dois projetos tem especificidades que fazem deles oportunidades para que situações e desafios da realidade sejam chances para transformações.
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