Alma bordadeira – e o bordado livre

Muitos me perguntam sobre a prática do bordado livre. O que é mesmo isso? Do meu ponto de vista precisamos buscar as respostas na alma bordadeira.

Alma bordadeira é do tipo faceira, que anda pelas bordas, viaja pelas beiras, engancha nos detalhes da paisagem. Interessada na vida, olha as coisas em busca do que há por trás e por dentro delas. Caminha de mansinho, caçando belezas. Uma alma bordadeira é um ser vivente, livre. Embora vivos, nem por isso somos viventes. Viver é dar sentido à vida. Saber que todos podemos desenvolver o ser vivente. É só pegar a manha – ou a luz da manhã, diria o poeta…

tecendo-a-vida-bordadeira

Obra: Tecendo a vida bordadeira. Coleção: Mulheres – Sagrado Feminino

Sua presença pode aquecer o mundo? Descubra você mesma em pequenos gestos – aqueles pequeninos dos quais nem se dá conta. A bordadeira, por exemplo, na hora de bordar, deixa no pano o calor de sua alma. Ela borda, borda e borda – afasta o pano para admirar e se surpreender com a imagem.

Assim no pano como na vida. Sabe que, de perto, a gravidade mostra seu peso e arrisca cortar o fio que une ao Todo. Percebe que, de longe, o menor detalhe ganha significância. Compara o recém-criado naquele campo de bordar com liberdade. Compreende que linhas e agulhas diferentes geram resultados distintos.

Desapego é um de seus nomes. Borda o mesmo ponto repetidas vezes, ciente de que nunca sairão iguais. Bordar é um pouco brincar, reinventar. Criar e crer na criatura que se forma ponto a ponto, passo a passo. Às vezes é necessário sair do
traçado e experimentar imagens inéditas até para si mesma. Corre lá, desmancha e faz de novo. Paciência é um de seus muitos nomes.

Recorte da obra Tecendo a vida bordadeira

Qual o tempo e o espaço certos para bordar? Humildade é um dos nomes desse lugar. Para aceitar com alegria o que se tem para hoje. Se ao bordar ela esbarra numa memória vivida, pode fazer brotar um suspiro, uma ruga na testa ou um sorriso maroto. Também pode sonhar e capturar futuros possíveis.

Obra: Moça Entrebordada

Caminhar no tempo é o que uma alma bordadeira faz, sob a regência do Agora, onde tudo acontece. Caso contrário, a agulha fura o dedo, a linha se enrola ou desfia, desafia.

Alquimista pode ser mais um outro nome da alma bordadeira no tempo vivido. Assim é uma alma bordadeira e de todos que se aventuram além de muros, regras e ponteiros.

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