Bordado livre na prática da experimentação do Matizes Dumont

O que é o bordado livre

Para o Grupo Matizes Dumont o bordado livre é uma forma não convencional de expressão-poético-visual, caminho por onde buscamos estética própria ao bordar com alma e ousadia. A liberdade de “bordar em cima do inesperado” nos possibilita desenvolver o que nós chamamos de bordado livre e espontâneo.

Espontâneo em seu resultado, porque busca se livrar das convenções. Durante anos a fio de agulhas, linhas e letras do bordado experimentamos várias técnicas, misturamos e recriamos pontos até nos libertarmos das convenções, do avesso e do direito, até chegarmos ao “bordado a fio solto e malabares”.

Obra: Mulher que borda águas. Coleção: Mulheres – Sagrado Feminino

Bordado livre é um estado de espírito. O bordado é livre se você também estiver livre. O bordado livre é algo interno, pessoal.

O encontro entre liberdade, memória e técnica

A técnica “bordado a fio solto e malabares” vem sendo desenvolvida há anos pelo Grupo Matizes Dumont, fruto de incessante busca de liberdade, da mistura de tecidos e texturas com a variedade de fios, desde a mais pura seda ao rústico algodão e à lã que aquece delicadas almas. Tantos caminhos bordados e novos fios enredados brincam com as luzes que nossas mãos bordadeiras capturam em diferentes suportes: seda, tecelagem artesanal, batik. Reinventados, os pontos surgem na improvisação e na experimentação.

Nesse sentido é fundamental compreender que o processo de criação passa necessariamente pela nossa experiência no cotidiano, pelo seu olhar com sensibilidade, no tempo, na nossa história. A arte de observar e o aprendizado no tempo vivido.

Obra: Meninos no balanço. Coleção: Portinari

O gesto livre e alegre de um criar que desafia a imaginação. Algo novo emerge a cada ponto, a cada reinvenção no espaço a ser explorado – esse campo onde a linha corre solta e descobre emoções. Onde laçadas invisíveis pactuam o encontro entre o processo vivido pelo artista e aquele que contempla a obra.

Como dizia Fayga Ostrower, ao falar do ser consciente-sensível-cultural: “entendemos que precisamente na integração do consciente, do sensível e do cultural se baseiam os comportamentos criativos do homem”.

Obra: Ciranda dos meninos. Coleção: Árvores

Nesse sentido a festa do olhar e dos sentidos nas criações do bordado livre, surge dos nossos sucessivos encontros com o simples e belo, frutos de um olhar sensível até as intervenções bordadas sobre o desenho vigoroso de Demóstenes, cheio de luminosidade, intenso em sua espiritualidade.

Obra: Dança de Roda. Coleção: Portinari – Coração em Paz

Para nós, Grupo Matizes Dumont, que crescemos no cerrado, toda a natureza é uma festa do olhar e dos sentidos. Uma festa que acontece em linhas harmoniosas e circulares. Vidas começam e recomeçam. Flores murcham, fogo arde, sementes brotam. Águas que nos comovem e se encachoeiram em comovente alegria. É tudo festa de sentir, falar, cuidar e bordar! É memória viva!

Obra: Reflexo. Coleção: Entre Rios – Entre nós

Aqui eu conto que ao longo de cada fase do meu tempo e agora na maturidade, sigo a reencantar outras formas e cores. Com olhar acolhedor à minha volta, procuro enxergar desde o quase invisível que habita entre o real e a fantasia, ao indizível mundo das cores.

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