O poder agregador do bordado

Bordar!

Arte milenar! Arte contemporânea!

Desde sempre o bordado acompanhou a evolução humana.

Foi num piscar de olhos que se preparou uma agulha de ossos ou de espinhos de palmeiras?

Quem teve a ideia de juntar o couro de animais para se aconchegar e se proteger do frio?

E os fios? Como terá sido a experiência de costurar peles de animais e relações afetivas com fios vegetais?

Fico pensando na beleza da descoberta do fazer, de criar novas possibilidades num grupo da antiguidade.

Beleza maior ainda é a sobrevivência da arte do bordado repassada de gerações em gerações. Surpresa boa é ver o bordado que antes era considerado arte menor, pular dos assessórios para as galerias de arte.

Acredito que todas as artes têm a função de agregar pessoas. E o ato de bordar mostra bem isso: a força das conexões criativas nos processos de grupos, nos clubes e associações que praticam o saber coletivo.

Será que bordar é mesmo um ato solitário, intimista e reflexivo?

É tudo isso e muito mais!

Bordar só é muito bom! Faz de você, gente bordadeira, um conhecedor de si mesmo. Um ser real que mostra bem o que está em sua alma e registra os seus sentimentos com as cores e a tessitura dos pontos, um ser bordadeiro que borda, reborda suas memórias e costura suas vivências pessoais.

Bordar junto do outro é uma grande experiência! O bordado é agregador e possibilita olhares diferenciados de mundo, propicia partilhas, composições e diálogos afetivos. O bordado coletivo cresce e desenvolve a medida que a pessoa percebe a importância do pertencimento. A grande troca de saberes que é a força do coletivo.

Foi por acreditar no poder agregador do bordado que o Matizes Dumont criou a possibilidade de repassar nosso aprendizado em bordados para comunidades com as quais aprendemos e ensinamos.

Desenvolvemos a vivência psicopedagógica (A)Bordar o Ser, prática que rompe com o aspecto apenas instrumental do ato de bordar para desenvolver o potencial criativo e expandir a consciência do participante das oficinas vivenciais que o grupo realiza em todo o Brasil e ainda, a roda de bordado atualmente realizada com o Clube Matizes do Bordado, criado recentemente e com muitos integrantes do Brasil e do exterior.

Esta bordação traz a oportunidade de rebordar a história de vida, num exercício de humanização e espiritualidade, e é utilizada em processos de desenvolvimento humano e também em processos de capacitação  para geração de trabalho e renda, projetos socioeducativo e ambientais.

São mais de 35 mil bordadeiras e bordadeiros espalhados pelo país num processo coletivo de compartilhar conhecimentos, complementar e bordar sua realidade.

São grupos comprometidos com a arte, com a beleza, com a resistência, a resiliência. Ou ainda, gente que luta pela sobrevivência cotidiana, gente que luta pelas questões de gênero, pelas tramas políticas democráticas e limpas, e, sobretudo, grupos que revelam bem a função da arte: – mostrar o belo, o sensível e denunciar o impróprio!

Essa rede entrebordada, faz troca de saberes e promove transformações pessoais e coletivas importantes no pensar, compartilhar e agir. Isso é poder! Isso é arte transformadora.

Que sobreviva a democracia criativa!

 

 

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