“A terra não pertence ao homem, o homem é que pertence à terra. O homem não tramou o tecido da vida,ele é simplesmente um de seus fios. Tudo que fizer ao tecido, fará a si mesmo”.
(Chefe indígena Seattle)
A ideia de que “a terra não pertence ao homem, o homem pertence à terra” é um poderoso lembrete da costura necessária entre os viventes. Lembra-nos que não somos os donos do planeta, mas sim parte de um ecossistema maior que devemos respeitar e proteger. Somos parte dos diferentes fios com que a Terra Mãe tece, pinta e faz novos sagrados bordados a cada dia.
A metáfora da terra como uma tapeçaria ou um bordado
A ideia de pertencimento às tramas, tessituras da terra é vivenciada pelos povos indígenas ao redor do mundo, incluindo nossos Povos Originários no Brasil. Povos que há muito tempo nutrem uma profunda reverência pela terra e por todos os seres vivos. Eles compreendem que a terra não é simplesmente um recurso a ser explorado, mas uma entidade sagrada que sustenta toda a teia da vida.
Nos tempos atuais, esta ideia assumiu uma nova urgência à medida que enfrentamos as realidades das alterações climáticas, da desflorestação e de outras crises ambientais. Vimos as consequências devastadoras de ignorar a nossa ligação à terra e a importância de reconhecer que não estamos separados da natureza, mas fazemos parte dela.
A metáfora da terra como uma tapeçaria ou um bordado é poderosa. Sugere que cada fio, ou espécie, é essencial para o desenho, estrutura e forma da tapeçaria. Se um fio for removido ou danificado, toda a tapeçaria será afetada. Da mesma forma, se prejudicarmos uma espécie ou destruirmos um ecossistema, isso poderá ter consequências de longo alcance para todo o planeta.
Mais do que uma ideia, o agir para o Bem Viver
Penso que é mais que uma ideia, mas uma forma de agir para o Bem Viver, que vai enlaçando pontos entre nós e a biodiversidade: eu comigo mesma, com o outro e com o meio ambiente. Assim como uma tapeçaria com apenas um tipo de fio seria algo nem sempre belo, um planeta com apenas um tipo de vida seria certamente um lugar estéril e inabitável. A biodiversidade é o que dá à Terra a sua riqueza e beleza, e cabe a cada um de nós protegê-la.
A Mãe Terra – nossa Casa Comum
Aqui não se trata apenas de proteger o ambiente por si só. Trata-se também de reconhecer a maternidade da terra e entendê-la como nossa Casa Comum. Aceitar o impacto que as nossas ações têm sobre nós mesmos. Como diz o ditado, “tudo que você faz ao seu redor você faz a si mesmo”. Quando poluímos o ar, a água e o solo, não prejudicamos apenas outras espécies, mas também a nós mesmos. Dependemos da Terra Mãe para a nossa sobrevivência e qualquer coisa que prejudique a Terra, em última análise, também nos prejudica.
Esta ideia é também um apelo à humildade. Lembra-nos que não somos o centro do universo, mas um fio num grande bordado de vida. Devemos reconhecer as nossas limitações e as nossas responsabilidades para com a nossa Casa Comum e todos os seres vivos.
Então, como passar da ideia à prática? Uma maneira é adotar um estilo de vida mais sustentável. Isto pode incluir coisas como a redução da nossa pegada de carbono, a conservação de água, a utilização de fontes de energia renováveis e a redução de resíduos. Também pode significar apoiar políticas e empresas que priorizem a proteção ambiental e a sustentabilidade.
Outra forma é educar-nos a nós próprios e aos outros sobre a importância do olhar com sensibilidade para a biodiversidade e a interligação de todos os seres vivos. Podemos aprender sobre o conhecimento ecológico tradicional dos povos indígenas e incorporar a sua sabedoria na nossa própria compreensão do mundo natural. E ainda praticar a gratidão e a reverência pela Mãe Terra e por todos os seres vivos. Isto pode significar reservar algum tempo para apreciar a beleza da natureza, praticar a atenção plena, a meditação e envolver-se em atos de serviço e gestão do planeta Terra.
O momento nos convoca para um novo bordado pela nossa Casa Comum, quando carecemos de desnovelar o “Ser” para fortalecer fios da natureza, para um futuro mais sustentável e justo para todos os seres vivos.
Brasília, 22 de abril de 2024
Simplesmente, excepcional este último texto, Marilu, sobre a “terra e o bordado”!
Não deixaste escapar absolutamente nada nesta profunda relação.
Com firmeza, doçura, força, beleza, amor, sabedoria, nos instigas a fazer mais e, se possível, melhor, em tudo… do simples olhar, contemplar, meditar, amar, bordar, viver, conviver… ao… sermos felizes… Gratidão!!!