Linguagem contemporânea têxtil e afetiva, o bordado é cada vez mais praticado por pessoas de todas as idades, promovendo alegria, bem-estar e peças muito originais são criadas a cada dia. Mulheres e homens praticam corajosamente o bordado livre com todos os desafios da manualidade e da arte, promovendo o encontro entre histórias e bordado.
De modo geral, o bordado tem sido utilizado pelas mulheres ao longo da história recente como forma de sobrevivência, de expressão, de conectar-se com sua ancestralidade e feminilidade e tornar visíveis suas histórias e conhecimentos. Para nós que praticamos o bordado como linguagem, bordar é uma forma de arte que nos conecta à ancestralidade, ao feminino, às delicadezas.
O bordado contribui para enriquecer nosso presente, garante a continuidade de expressões singulares – a nossa herança cultural – e promove um mundo mais diverso e inclusivo. Mas nem sempre foi assim. Antes, o ofício de bordar era restrito à intimidade do lar, onde na maioria dos casos as mulheres viviam aprisionada ao ambiente doméstico nem sempre com liberdade de expressão e como no círculo do bastidor, submissa aos poderes impostos para mulheres naqueles tempos. Submissa com a mesma pressão como a que o pequeno arco de madeira faz sobre o tecido.
Mas fomos “Para além do bastidor” como sugere a história mágica de Marina Colasanti. A vida em sua mutabilidade trouxe novas perspectivas e abordagens ao bordado: os riscos passam a ser inspirados na realidade brasileira, os panos de fundo – ou suporte para o bordado passaram a ser mais variados, e o bordado deixou de ser “arte aplicada” para ocupar seu espaço como linguagem da arte desta mesma vida cheia de movimentos. Agora mulheres e homens criam seus bordados cheios de força e alegria, criam pontos em fusão com elementos de arte contemporânea e criação de obras de expressão pessoal e política. O bordado ancestral continua a ser poderosa forma de expressão artística e cultural, mesmo em um mundo cada vez mais digital.
O bordado afetivo como resistência e história
Contando suas trajetórias pessoais com linhas e agulhas, milhares de mulheres descobriram novas fontes de renda em projetos o como o “Caminho das Águas”, “Bordando Brasil”, coordenados pelo grupo Matizes Dumont há mais de duas décadas em todas as regiões do país. Outros projetos vieram tais como: Quintais, Entre Rios, Semeando Esperança em Brumadinho, e mais recentemente Bordando a Paz no Pará. O bordado vai seguindo seu caminho na “carreira do rio”, e novos grupos vão formando e ampliando a bord(ação) pelo Brasil a fora. Salve, salve a manualidade redescoberta!
Veja belos exemplos de grupos de mulheres bordadeiras:
Grupo CorAção de Araguari – bordado afetivo e solidário
O grupo CorAção de Araguari também nasceu após uma oficina com o Grupo Matizes Dumont. Bordam juntas 19 mulheres e 1 homem bordam juntas desde 2017 e decidiram dar um motivo a mais ao seu bordado. Bordado afetivo, escolheram fazer peças em formato de coração e travesseirinhos para doar para pessoas acometidas por câncer, e hospitalizadas em Araguari, e Uberlândia – MG. Até hoje mais de 1.000 peças foram doadas.
Bordados fluindo entre flores em Ivoti
Em Ivoti, a cidade das flores, as mulheres têm usado suas histórias como ferramentas de comunicação de suas histórias pessoais e das tradições de suas famílias. Através do uso de narrativas (auto)biográficas, as mulheres foram capazes de refletir sobre suas vidas e experiências e usar suas histórias para criar um senso de comunidade e pertencimento. ¹
Grupo Mulheres de Fibra
Este grupo, por exemplo, buscou valorizar o cotidiano da vida de mulheres, muitas vezes invisíveis, e trouxe à tona a história dessas vidas. Quando se comemorou 40 anos da conquista do título da Unesco considerando Ouro Preto como Patrimônio da Humanidade, as associações de bordadeiras da cidade tiveram seus saberes culturais legitimados pelo poder público municipal como Patrimônio Cultural Imaterial. ²
O Saber Cultural das histórias e o bordado
No bordado, trabalhamos atitudes para o Bem Viver(Com)fiar, (Com)viver, (Com)partilhar e no processo de aprendizado compartilhamos muitos saberes culturais. Grupos de bordado pelo Brasil têm usado suas histórias como ferramentas de comunicação de suas histórias pessoais e das tradições de suas famílias. Através do uso de narrativas (auto)biográficas, as mulheres foram capazes de refletir sobre suas vidas e experiências e usar suas histórias para criar um senso de comunidade e pertencimento.
A combinação de bordado e histórias revela uma poderosa sinergia e segue com o fluir da vida.
Brasília
26/09/2023
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