“A cidade está completamente em pânico”
Correio da Manhã. 23 de novembro de 1910. Rio de Janeiro.
No verão do ano de 1910, entre os dias 23 e 26, o Rio de Janeiro era um turbilhão de temor e curiosidade. Em 1910, a Revolta das Chibatas ocorre na cidade, marcando um levante contra os cruéis abusos impostos aos marinheiros no início do século passado.
O marinheiro negro, filho de escravos, João Cândido, líder da Revolta da Chibata, é conhecido por sua luta contra os maus-tratos na Marinha.
Para muitos historiadores a Revolta da Chibata foi mais do que a insatisfação pelos maus tratos, mas a luta contra a desigualdade racial existente desde aquela época. Ela foi um marco histórico de ruptura contra um sistema racista e opressor.
Após a insurreição, João Cândido foi preso e expulso da Marinha. Posteriormente solto, vendia peixes para sobreviver. Conhecido como “Almirante Negro”, permanece até hoje sem o devido reconhecimento pelos seus atos humanitários em defesa dos marujos.
O cárcere, o bordado como resistência e sobrevivência psicológica
No cotidiano brasileiro o bordado até então era usado utilizado por centenas de mulheres. Provavelmente a grande maioria delas tinha o bordado como sobrevivência psicológica diante da pressão da sociedade sobre a alma feminina, representada pelo círculo fechado do bastidor.
Historiadores e pesquisadores relatam na cena brasileira homens também abriam as janelas da alma e bordavam a sua história em situação de conflito, de dor, de busca de suas garantias de sobrevivência: o marinheiro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, Virgulino, o Lampião, Arthur Bispo do Rosário, e José Leonilson.
Intuitivamente eles bordavam para organizar-se emocionalmente, superar suas dificuldades imediatas e em alguns casos, de forma coletiva.
Poucos sabem que por trás daquele bravo líder da Revolta da Chibata havia um habilidoso bordador. Homem do mar, acostumado a lidar com as velas, tinha o hábito de bordar no cárcere.
Essa faceta de João Cândido permaneceu desconhecida até a virada do século XX. O professor José Murilo de Carvalho teve a sorte de deparar-se com dois bordados feitos por João Cândido, que haviam sido doados a um museu de arte em São João Del Rei, Minas Gerais, por um ex-guarda da prisão onde João estivera detido após a revolta.
A pergunta que fica é: se João Cândido bordava, por que isso permaneceu oculto? Bem, o mais provável é que o preconceito do período tenha impedido que ele exibisse publicamente suas obras.
A habilidade de João Cândido como bordador, que até pode parecer curiosa para alguns, é importante para lembrar que as atividades manuais não têm gênero.
Homens e mulheres podem dedicar-se a qualquer atividade que desejem, independentemente de estereótipos. Em outra oportunidade falaremos mais sobre outros bordadores.
E você, como têm andando o seu bordado?
Seja você uma professora aposentada, um motorista de ônibus, ou até um marinheiro, está na hora de pegar sua agulha e bordar!
A historia do João Cândido é absolutamente incrível, é uma pena ele não ter o reconhecimento que deveria. Eu sou uma grande admiradora da historia dele, saber que ele bordava só me faz admira-lo mais. Viva o Bordado brasileiro e viva João Cândido!!!
Linda a estória de João Cândido e seu bordado ,
Que emoção saber dessa história do almirante João!
Que bom poder ter contato com esse “rastro” deixado através do bordado!
Obrigada pela história, meninas Dumont
Parabéns lindo artigo.
Lindo! Parabéns Marilu.
Muito linda e interessante a história dele. E sobre homens bordar , aqui em São João del Rei numa escola nos anos 80 uma matéria “educação para o.lar” os meninos e meninas aprendiam bordar.